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São Romãozinho
São Romão, além de ser o nome da vila é também o nome do Santo venerado na capelinha do lugar, um santo com grande fama. A ele recorria, noutros tempos, muita gente, apelando à sua protecção quando era mordida por cães raivosos. A mordedura era de tal ordem grave que, em pouco tempo, levava as pessoas à morte. Em hora de aflição, recorria-se ao “S. Romãozinho”, até como forma de prevenção. Assim, no primeiro Domingo de Agosto, cumpria-se a tradição, ou seja, gente de toda a parte deslocava-se a S. Romão para cumprir as suas promessas. Mais tarde, com a descoberta da vacina contra a raiva, o povo sossegou.
Matança do Porco
o dia era sempre de festa e de azáfama sempre que havia matança do porco. Cada lavrador marcava o dia para a matança, convidava o matador, os familiares e amigos para ajudar, logo a partir do amanhecer. O porco era “chamuscado” com a caruma de pinheiro em chama para lhe queimar o pêlo, começando a tarefa de lhe raspar a pele com a telha de barro de canudo (meia cana), facas e outros objectos. Depois de bem queimado, retirados os cascos das patas e cortadas as orelhas, seguiu-se a lavagem da pele, até adquirir uma tonalidade acastanhada.
Os ajudantes da matança começavam a desmanchar a carcaça do porco … uma operação que requer muita experiência, para não desperdiçar nenhum pedaço. Há que separar cada parte do porco segundo a finalidade tradicional: os presuntos, as costeletas, os lombos, os lombinhos e o “toucinho para as favas”, assim como a selecção da carne destinada aos enchidos, tarefa em que se empenha “toda a família associativa” e mesmo os curiosos convidados para a matança.
Entretanto, na cozinha era a azáfama da “matança”, além dos preparativos do almoço.
Esta prática - matar o porco de forma tradicional, para a alimentação familiar - vai muito mais além do simples acto de matar um animal para consumo caseiro, uma vez que à volta deste acontecimento, a família e amigos reuniam-se num espírito de entreajuda e de festa. A matança de um porco, significa sempre o sentar à volta da mesa, num puro convívio social.
Habitação Tradicional
O modelo da casa gandaresa levou cinco séculos a amadurecer e a apurar-se, sem interferências de outras culturas que o descaracterizassem, salvo as influências de tradição mourisca e a incorporação de elementos renascentistas, que lhe acrescentou encanto e elegância. Deixando adivinhar a vida sóbria e serena do campo é ela fruto duma sólida sabedoria, conformada em sucessivas gerações, e duma relação harmónica e feliz com a paisagem e os elementos.
A casa gandaresa encontra remota filiação na casa árabe ou mourisca. À arquitectura do granito, que se desenvolve em altura, o sul contrapõe um espaço térreo, organizado em planta centrada, aberto para o interior, recorrendo a alvenarias de terra crua e cozida. É portanto uma casa-pátio, de nítida filiação árabe, cujos materiais originários seriam o adobe, a telha caleira e a madeira de pinho. Parece haver, no entanto, no pátio gandarês, um remoto eco dos espaços interiores romanos, sobretudo da casa rural romana, e que se viram revividos nos claustros românicos de grande número de conventos.
Revitalizar a construção em adobe, ou pelo menos em técnica mista de adobe e cimento, este nos pilares e vigas, traria não apenas o usufruto de espaços mais agradáveis mas também a vantagem económica do menor custo dos materiais utilizados.
A casa integra-se na paisagem e quase se funde com ela. Daí que passe muito despercebida. A casa é como quem a habita: humilde, serena, integrada, funcional e feliz.
A construção em adobe, de tradição ancestral, produziu em si, em termos sociológicos, uma contradição aparentemente insanável. Se os nossos antepassados apreciavam a construção em terra pelo seu carácter confortável e quente, maternal e protector, puro e consonante com a terra a que se sentiam ligados, mais recentemente, as gentes, sobretudo as mais desprotegidas, sentem-se nela presas e envergonhadas, como num arcaismo que se lhes afigura obstáculo às aspirações sociais de consumo, ostentação e afirmação, em subserviência às imagens materiais do progresso moderno.
Um olhar mais atento para com este fascinante modo de habitar revela-nos um tesouro que se vai desvendando, mas que se sabe fugaz, pois, qual espécie em vias de extinção, dentro de anos não restará de pé um único exemplar, redundando em perda de memória e dum património colectivo que, pese embora a sua despojada aparência, guarda uma enorme riqueza que se vai dissipando.
Esperamos pois que, através dum empenhamento colectivo e convergente, se possam vir a preservar pelo menos os exemplares mais significativos dessa arquitectura tão serena, que transporta em si uma beleza intensamente discreta, e que, tal como a vida, é efémera e ternamente frágil.
Por: Paulo Frade
Publicado por: Freguesia de Santo André de Vagos
Última atualização: 29-09-2023